sexta-feira, maio 11

Gerações


Poesia não foi feita pra ser lida
Seu verbo é do instante da palavra
Sua língua não se fixa com tinta
Seu grito é de dizer sem vistas longas

É de escutar, sentir, tremer
Tem que olhar e seduzir
Tem que saber o Zé de ponta a ponta
Com ponte e pé de notas

Tem que dissolver, digerir, ser
Pra revestir feito algodão
Pra acolher em pés descalços
E correr sem deixar nó

Poesia não foi feita pra ser lida
Tem que ter chão pisado, vida feita
Sorrir feito quarta-feira plena
Desejar como vitrine enfeitiçada

É de palavra essa escrita
Palavra dita, transitória e suada
Céu, limite e feira grande
Feriado, criação e novidade

É de lambedor, óleo de pequi
É de verso ou de memória
Do meu verbo só história
Que se conta na mesa que passei

Foi da sanfona em correria que me veio
A certeza de que canto só cantado
Que lembranças de domingos bem passados
Nenzinha em desmanche acolhedor

Foi do sorriso e do grito perfumado
Que a palavra se fez sentida e respirada
Que a poesia de tanto ser mastigada
Serviu-se em minha veia por amor

Tota, mesa posta, cantoria
Era grande e era larga a romaria
De seguinte em seguinte
Feito de tudo, era pó

Fé, piedade e respeito
Carregar o que cresceu e não tem jeito
Só caminhando e sendo mesmo só

Bela ninando cria no peito
Foi num domingo que me veio
Assim, a dama
Sem passo, passarela
Sem ter cama
Sem papel, sem teto, sem pitó

Foi de vento de menino
De sandália de areia
De cabelo desatado
Desembestado laço
Seda silencia o que é pior

Poesia não foi feita pra ser lida
Aprendi entre vinhos e teclados
Entre versos de dizer embaraçados
Amizade esparramada de alegria

É de nós essa querida, essa magia
Obrigada por ser grande e sofredora
Por me acolher e deixar ser amadora
Dessa arte que nasceu e que se cria

Para: Jonara Medeiros

quarta-feira, março 21


É que nas águas se despejam melodias

Que os homens do tempo não desvendam

Nem as mulheres sagradas encaminham

É de música e de pão que se completa

A nítida poesia das Marias

Sem paciência.


Acredito em poeta, bêbado e criança. Sem explicações. Médicos é que não me entram. Não me orientam. Olhos retos e precisos, sorriso de segunda-feira. Solidão.
Quisera eu ser poeta, mas me faltam as palavras.
 Quisera um copo de cachaça e um trancelim, um padeiro e o abraço da boemia. Mas meu desabrigo é mais trôpego e minha morte mais distante.
Quisera que o sorriso sem pele e alma pequenina se abrigassem entre meus braços e nunca mais partissem. Mas já há alguns anos que não me deparo com os lápis de cores, nem robôs de montar. Há alguns anos que os números não se apresentam numa ordem única de zero a dez, a ser repetida em português ou inglês. As multiplicações são infinitas.
É de solidão aquela roupa branca, é de paranoia o olhar. Só queria uma resposta, uma vida um pouco mais priorizada. Não é assim. Descubra, explique-se, se vire! É isso.

sexta-feira, fevereiro 24

tomada de assalto

Eu escrevo com os pés
Em movimento retilíneo
Uniformizo o que vejo
E traduzo minha visão
Serei objetiva
Petrificarei uns instantes

Suspiro sob o céu listrado
Azul com branco
Em fileiras sem fim
Em fins de chegar ao que não disse
Ao que o meu grito não alcança
Nem o teu som sintetiza

Cansei das imagens
É com letras que se forma coração
Daquelas, resta o inacabado
A tranquilidade e o medo
Prefiro dominar a canção

E mergulhar
Caminhar, pulso entre pulso
Não sintonizo, só discuto


Eu vi o menino sentado e segui
Desenhei as armas em punho
A saudade indo embora
Era tudo sem alcance
Perspectiva desfocada

A proteção ainda não chegou ao mar
E eles tinham fugido pelas bordas
Gritaram saudações e naufragaram
Acabou, desmanchou, rompeu
Em sangue, lentes e amor

De pé, ficou o barraco
Na fé, suspirou uma mulher
Era branco e azul o uniforme
Era vermelho o que eu via

terça-feira, julho 26

tom


Me trouxeste o tom
Os tons coloridos do negro amor
Dissolvido em beijos e carinhos
- Sorri, então
Não quero mais esperar
- Merci
Pelo piano do Jobim
Pela loucura do Zé
Pela musicalidade do teu sorriso

sábado, junho 25


Um dia de cada vez
Uma manhã a cada mês
Seus olhos, talvez, me tragam mais felicidade

Um mês a cada instante e isso tudo,
Delirante,
Talvez retorne pro lugar

Uma semana em cada passada
E em cada madrugada
Creio eu, um novo querer

Um dia de cada vez
E construiremos um castelo de anos felizes