domingo, outubro 25

6 minutos.

Vera passava todos os 6 minutos antes das 20h anciosa, em frente ao relógio. Queria saber como seriam os que antecederiam o seu casamento. E há um mês fazia isso. Ficava lá, sentada na cama do quarto e pensava que o vestido já estaria no corpo. Todos os botões que Eduardo desatacaria estariam no lugar.
O vestido da avó Luzia, que ela mandara para França. Restaurado, chegaria dali há uns 15 dias, junto com Eduardo. Mas sua ância não estava na volta dos bordados e rendas, nem na de Edu. Lembrava então, que estaria chegando na Igreja e que não queria casar na Igreja. E que o vestido também não fora escolha sua. A mãe lhe entregara no dia do noivado e a recusa fora impraticável. O Edu também não havia sido muito escolha sua não. - Claro que não!- Exclama enquanto dava voltas pelo quarto. Como é que alguém tão próximo vai ser a pessoa certa. Quer dizer que os grandes amores são colocados assim tão proximamente. Com tanta gente, língua, país, guerra, o meu amor haveria de nascer aqui no mesmo país e por alguma obra do destino, parara ali no prédio vizinho e dividira todas as amarelinhas e bolas de gude. - Não, era muito simples!- Concluia mais uma vez, que não existia grandes amores, eram apenas as escolhas que contavam. Ela se casaria com Edu dali há 18 dias e 2 minutos por que queria e não por imposições arrebatadoras de amor nenhum. E ele precisava saber disso. Ligou então. Ele não estava no hotel. Mas já deveria estar. Ela sempre ligava às 20h. Mas faltava 1 minuto. Assim que desligou, o telefone tocou. Era Edu, para lhe dizer novamente que não, não era seu vizinho e com o sotaque ainda forte, lhe lembrara que seu não nome não era Éduárdo, como brasileiramente falava. E sussurrar que quando os grandes amores se apresentam as histórias se unem tão aflita e indecifravelmente que agora teria de lhe escrever os pedaços da vida dela da qual não participara. Ela sorrateiramente ria e desligava, depois de uns boas-noites e de confirmar também que o vestido fora sim sugestão da mãe, mas que ela havia amado. E que a Igreja fora um jeitinho que eles deram de não assustar tanto seu avó Otávio. Gostava dessas confirmações. E sabia que Edward também. Hahahahahahha. Ia dormir então, nos braços dos seus vagos e ligeiros pensamentos. Suspirava. Faltavam uns 6 minutos...

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