Aquela multidão: das ruas de Recife e das ladeiras de Olinda- Cor, vento, dor: carnaval
A dor foi poderosa. “É impressionante como os pisões-de-carnaval doem mais”, pensou ela. Mereciam mesmo assumir categoria adjetivadora. E o pior de tudo era compactuar com o fato de que sem o pisão não seria carnaval. O bom SENÃO‘GUENTA’PRAQUÊVEIO explica claramente a situação: aperto, empurrão, água, suja, de chuva, beijo, cheiros, cores, fantasia. Como acompanhar um bloco sabendo que pode ser vítima de um arcabouço de fatalidades? Mais, como aceitar isso de maneira tão branda e conseguir apenas sorrir?
Ver aquela multidão percorrendo ruas e ladeiras com o mesmo objetivo, pequenas esperanças, crente de que algo bom vai lhes acontecer ali. Quem sabe uma troca de sorrisos, que não seja troca, mas doação; um confidente, esperando em meio a tantos rostos, suspiros e fantasias? Um abraço? Um beijo indesejado? Uma vida nova! Coisas pelas quais sonhamos todos os dias, mas que nestes quatro, especificamente, passeiam mais livremente pelo nosso pensamento, soltos das amarras, das obrigações e regras.
Flutuam simplesmente, seus palhaços guardados o ano inteiro. Foi com essa conclusão que ela acordou. Sorria como numa fotografia de carnaval e tinha os cabelos cacheados tão fascinantes, que não parecia que já tinham passado por tantas quartas-feiras cinzentas. Ela correu para o banheiro, para que não se atrasasse. No caminho, passou um olho na passagem em cima da escrivaninha: Caruaru- Recife. Uns poucos quilômetros para mais um ano de cor, vento e dor: carnaval.
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